Educação de Surdos: Colonialidade, Resistência e Epistemologias Decoloniais

(Português + Língua Brasileira de Sinais)

A educação sempre foi um campo de disputa para as comunidades surdas, refletindo dinâmicas de poder e colonialidade do saber (Quijano, 2000). A imposição do oralismo, amplamente respaldada por discursos médicos e pedagógicos ouvintistas, desvalorizou a Língua de Sinais como instrumento legítimo de ensino e aprendizagem. Esse modelo assimilacionista não apenas suprimiu a língua e a cultura surda, mas também reforçou hierarquias epistêmicas que marginalizam formas não hegemônicas de conhecimento. Harlan Lane (1992) argumenta que essa negação da identidade surda equivale a uma forma de genocídio linguístico e cultural, na medida em que impõe uma epistemologia única e reduz a experiência surda à deficiência. No entanto, as comunidades surdas resistem e constroem alternativas pedagógicas que desafiam essas estruturas de poder. A luta pela educação bilíngue – em oposição ao paradigma da inclusão – tem sido impulsionada pelo ativismo surdo e por avanços em políticas linguísticas, que reconhecem a Língua de Sinais como elemento central na construção identitária e no acesso ao conhecimento. A perspectiva da deafhood (Ladd, 2003) desloca a surdez do campo biomédico para um entendimento sociocultural e político, enfatizando o papel da coletividade surda na produção e transmissão de saberes. Dentro das abordagens da pedagogia decolonial, torna-se fundamental questionar como os modelos educacionais podem perpetuar ou romper com lógicas colonizadoras que negam a diversidade linguística e epistemológica dos povos surdos. A educação decolonial propõe um reposicionamento dos sujeitos surdos como protagonistas de sua própria história, ressignificando práticas de ensino que valorizem suas formas de comunicação, cultura visual e modos próprios de aprendizagem. Este painel busca refletir sobre os desafios e possibilidades de uma pedagogia surda decolonial, analisando como o reconhecimento da pluralidade epistêmica pode transformar o espaço educativo em um território de resistência e emancipação.